10.3 Configuração do MLflow
O MLflow precisa de um back-end para salvar os dados dos experimentos, tais como as métricas, parâmetros, artefatos e modelos. Na seção anterior, executamos os tutoriais básicos, que utilizam o sistema de arquivos como back-end, mas essa abordagem é muito limitada, pois exige que os comandos sejam executados sempre na mesma máquina. Para um único usuário interessado em controlar seus experimentos e modelos, pode servir, mas para uma equipe que deseja um mínimo de consistência e colaboração, é desejável a configuração de um local centralizado.
Existem dois tipos de storage que precisam ser configurados para o funcionamento completo do MLflow:
Um serviço de storage simples, como Amazon S3 ou Google File storage, para armazenar artefatos e parâmetros/métrica;
Um serviço de banco de dados, como MySQL ou PostgreSQL, para armazenar dados para registro de modelos.
Faremos aqui uma configuração completa usando Docker, que possibilita que o MLflow seja utilizado com todos seus recursos. O exemplo foi adaptado deste repositório aqui e da documentação oficial do MLFlow.
10.3.1 Serviço de storage MinIO
O primeiro serviço que iremos configurar é o armazenamento de arquivos. O MinIO é uma ferramenta open source compatível com o Amazon S3, portanto é uma excelente opção para demonstrar como esse tipo de armazenamento pode ser utilizado. O leitor pode optar por configurar sua própria instância do MinIO ou utilizar o Amazon S3, com as mesmas configurações do lado do MLflow.
Para configurar o MinIO, utilizaremos uma imagem Docker pronta. Faremos também uso do docker compose
como facilitador na configuração do ambiente.
Crie uma pasta em um local qualquer, chamada mlflow-server
. Crie um arquivo chamado compose.yml
:
Esse arquivo faz a configuração de um contêiner com base na imagem oficial do MinIO. Há duas portas sendo abertas, 9000 (para a interface principal) e 9001 (para os comandos internos). A porta 53 está sendo exposta para uso interno, pois será necessária para um serviço que criaremos a seguir. A configuração do usuário e senha também é feita nesse arquivo, com base em duas variáveis de ambiente que serão definidas a seguir. O comando que executa o servidor é o seguinte:
server /data --console-address ":9001"
/data
é a pasta onde serão salvos os arquivos e metadadosconsole-address
define a porta para onde os comandos devem ser enviados
O arquivo do docker compose
também define duas redes onde esse serviço estará disponível. A rede internal
será compartilhada com outros serviços que definiremos mais adiante, e a rede public
é, como o nome sugere, a rede por onde acessaremos o MinIO a partir da máquina local e de outras máquinas, caso quisermos.
Outra configuração importante desse arquivo é o trecho healthcheck
. Esse trecho define um script responsável verificar a saúde do serviço, ou seja, se ele está disponível a ponto de poder ser utilizado por outros serviços. No caso, verifica se a porta 9000 está disponível por meio do protocolo TCP, o que indica que o serviço está rodando. Isso será necessário mais adiante. Mais informações sobre essa configuração do Docker podem ser encontradas na documentação oficial do Docker.
Por último, o arquivo define que existirá um volume, chamado minio_volume
que ficará mapeado para a pasta /data
do contêiner (a mesma indicada no comando que executa o servidor).
Para poder rodar esse serviço, é necessário definir as configurações de usuário e senha. Faremos isso em um arquivo chamado .env
:
Fique à vontade para trocar os valores, caso desejar.
Agora já podemos rodar. Execute:
Assim que o contêiner for iniciado, podemos testar, abrindo o navegador no endereço http://localhost:9000
.
Experimente a interface, crie novos buckets, faça o envio de arquivos para ver como funciona.
O MLflow irá armazenar seus artefatos em um bucket. Um bucket é uma unidade de armazenamento no Amazon S3, confira a documentação para saber mais. Podemos criá-lo manualmente, pela interface, e depois informar ao MLflow o nome do bucket. Mas podemos também automatizar essa etapa. Assim, seguindo a filosofia de infraestrutura como código, podemos deixar tudo programado de modo a gerar menos erros.
Vamos fazer uso do CLI do MinIO, uma ferramenta em linha de comando que permite a execução de diversos comandos. Por exemplo, para criar um novo bucket chamado "umbucketqualquer" podemos executar os comandos:
O primeiro comando configura a ferramenta CLI para acessar o servidor local, e o segundo solicita a criação de um novo bucket.
Portanto, vamos configurar um serviço no arquivo compose
para automaticamente criar um bucket, caso não exista, assim que o serviço for executado. Modifique o arquivo compose.yml
:
O novo serviço utiliza uma imagem que tem apenas o cliente do MinIO instalado, pronto para usar. Então podemos apenas executar o comando que quisermos. Mas não podemos executar nada antes de termos certeza que o serviço do MinIO terminou de rodar. No arquivo, existe uma dependência deste novo serviço para o serviço do MinIO (depends_on
), mas isso não garante que ele execute apenas após o outro estar pronto, como já discutimos antes, na Seção 5.2. Por isso, o comando definido nesse serviço acrescenta uma condição service_healthy
, que espera até que o outro container esteja passando por sua própria condição de healthcheck
, como configurado acima. Apenas quando essa tentativa é bem sucedida que o comando segue para a criação do bucket. O nome do bucket deve ser definido no arquivo .env
:
É importante entender que o comando primeiro verifica se o bucket já existe. Se ele já existir, não será criado. Como estamos fazendo uso de um volume, os dados ficarão persistentes mesmo entre as execuções. Para testar, interrompa e execute o docker compose up
novamente. Após a execução, acesse a interface novamente e veja como o bucket foi criado.
10.3.2 Serviço de banco de dados MySQL
O próximo serviço a ser executado é o banco de dados. Faremos uso do MySQL, que também já tem uma imagem Docker pronta para ser utilizada. Vamos modificar o arquivo compose.yml
:
Não há muita novidade aqui. Estamos expondo a porta 3306, que é a porta padrão do MySQL, configurando dados do banco de dados, como base de dados, usuário e senha, um volume para armazenamento persistente e uso da rede internal
(somente o mlflow precisará acessar esse serviço). Também definimos uma condição de healthcheck
que usa o comando mysqladmin
para testar se o serviço já está respondendo.
Modifique também o arquivo .env
para adicionar as informações adicionadas:
Já podemos subir os serviços e ver o resultado. Na verdade não há muito o que ver, exceto as mensagens no terminal informando que o MySQL está de fato rodando.
10.3.3 Serviço do MLflow
O terceiro e último serviço que iremos rodar é o MLflow. Também não é difícil configurá-lo no docker compose
, sendo basicamente configurações e endereços dos demais serviços para a orquestração. Porém, não existe uma imagem oficial do mlflow para simplesmente utilizarmos no Docker compose. No entanto, sua instalação para efeitos de demonstração é trivial, de modo que faremos isso usando um arquivo Dockerfile
, com o seguinte conteúdo:
Essa imagem é baseada em uma imagem padrão python
, e terá instalado o MLflow e demais dependências necessárias para conexão aos demais serviços.
Agora vamos modificar o compose.yml
:
Ainda falta configurar uma última coisa no .env
:
Esta variável define em qual região da AWS o bucket está armazenado. Como o MinIO roda localmente, este valor não é nenhum valor real, mas é necessário para que a configuração fique completa para quando isso for migrado para a AWS realmente.
O principal a ser analisado aqui é o entrypoint:
mlflow server --backend-store-uri mysql+pymysql://${MYSQL_USER}:${MYSQL_PASSWORD}@db:3306/${MYSQL_DATABASE} --artifacts-destination s3://${AWS_BUCKET_NAME}/ --serve-artifacts -h 0.0.0.0
mlflow server
: comando que inicia o MLflow--backend-store-uri XXX
: indica ao MLflow onde armazenar os metadados referentes aos modelos (no caso, o MySQL)--artifacts-destination s3://${AWS_BUCKET_NAME}/ --serve-artifacts
: indica ao MLflow onde armazenar os artefatos (no caso, o MinIO, ou poderia ser Amazon S3). O mlflow server estará funcionando como um proxy para armazenar e recuperar os artefatos do local especificado-h 0.0.0.0
: diz ao MLflow para aceitar requisições de fora da máquina local
Pronto, basta executar o comando docker compose up
e teremos tudo funcionando. Estamos com uma instância do MLflow completamente configurada e acessível no endereço http://localhost:5000
. Na próxima seção mostraremos como utilizar essa instância para aproveitar das funcionalidades dos componentes do MLflow de forma centralizada.
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